2009/05/11

Aquele Bip

Aquele Bip. “Será que o dono desse maldito aparelho não o ouve? Já fazem seis segundos e até agora nada”. Apesar de irritante, não era o que mais o incomodava.

Ficara pensando em que os outros imaginavam dele, naquele momento, principalmente os que cruzavam os olhos nos seus. Isso porque sentia-se como um borrão, um volto impessoal, do qual daqui a 22 segundo não seria mais lembrado. Como aquele bip que já durava 12 segundos e nada... “Será que só ele que ouvia?”.

O senhorzinho sentado no banco a frente, no lado esquerdo, nem o notara, deveria estar mais preocupado com suas dores nas costas, sofridas graças aos setenta anos vividos, pelos menos.

A garganta contraindo e expandido da jovem senhora mostrara que a degustação de sua água sem gás (apesar do gosto da água ser uma dos seus maiores enigmas) e a refrescância que ela proporcionava, indicava que o calor era mais incomodante do que aquele maldito bip que à 18 segundos atormentava a sua mente. Talvez dois ou três bips por segundo, pelo menos 36 bips até aquele ponto.

Nesse instante do seu pensamento é que ele olha a sua direita e um pouco mais a frente e seu coração acelerasse, aumentando os seus batimentos e a força da pulsação do sangue pelo corpo, seguido por uma descarga espontânea de adrenalina e... num estado que faria gravar aqueles cinquenta e oito centésimos de segundos pelo resto de sua vida... todas essas reações em conseqüência do encontro de olhar mais longo da viagem. E o fato que mais o agradara era que aquela linda morena já o fitava por pelo menos dois segundos. Claro que ela desviou o olhar depois dos cinquenta e oito centésimos de segundo, e assim ele aproveitou a oportunidade para percorrer o corpo todo daquela criatura cândida e angelical.

Nem percebeu que o bip havia desaparecido no ar, pois acordou o rapaz sentado atrás que desligou o despertador, no exato momento em que o metrô chegou a estação Barra Funda, qual todos iriam desembarcar, estação final da viagem, aonde sumiu em meio a multidão aquela morena linda que nunca mais viria na sua vida.

2009/05/10

Relampiano

“’Sorrir é a melhor forma de lidar com uma situação difícil’, eu li isso em um livro, não me lembro em qual mas sei que eu li”. Nós filhos desse maravilho e cruel país sabemos muito bem disso. Tratamos nossas dificuldades com alegria, sorrisos e lágrimas. Talvez num estado constante de choque, talvez para anestesiarmos a dor de nossas almas. Isso porque se encararmos nossa realidade com tristeza e agonia, entraríamos numa profunda e melancólica depressão. Por isso fazemos carnaval, forró e frevo, temos esperança e acima de tudo fé. Já ouviu “Relampino”? Um perfeito retrato de tudo isso, da vida da maioria das pessoas na face da terra e principalmente nesse pedaço chamado Brasil. Lindamente composta por Moska e Lenine. Com uma melodia que da vontade de dançar, uma letra amarga que nos faz chorar.