2011/02/28

A Terra da Precipitação

Um mar multicor, com predominância de pontinhos pretos. Assim ele viu , do 16º andar do edifício Barão de Serro Azul, a calçada da Avenida Paulista. Apenas de vislumbrar as formiguinhas cobertas com seus guarda chuvas lá em baixo, uma agonia torturante tomara-lhe a alma, calculando no que ainda lhe esperava.

A tempos presumia a existência de uma conspiração celestial, comandada por São Pedro, que insistia sarcasticamente liberar os ventos, trovoadas, as comportas de águas dos céus em toda essa semana justamente as voltas das quatro e meia da tarde, com a intencionalidade obvia de adornar minha volta ao lar com barro e caos!

A Terra da Garoa tinha esse apelido não por menos, era um indicativo que esta era preparada apenas para a rala e fria garoa, não para tormentas, tempestades e essas chuvas torrenciais que desabaram pela semana, e se assim fosse seria chamada de Terra da Precipitação.

A vista de algumas gotas, tudo tornava-se caos. Os bueiros enchiam, os pontos de ônibus lotavam, cada lotação tinha sua capacidade preenchida muito além do máximo suportado, expurgando excessos pelo ladrão, as buzinas berravam desesperadamente, numa externação do desespero dos motoristas, presos e imaginando as centenas de quilômetros andando metros por hora, que ainda enfrentariam por longas horas a frente.

Os riachos escapam de suas margens, os rios enchem e enxurradas invadem casa, bloqueiam avenidas, inundam carros. Aflição é estampada nos rostos, nas janelas, nas filas intermináveis.

Sem a chuva, em uma hora estaria no conforto do seu lar, e antes das sete debaixo do seu confortável edredom, mas agora com essa traquinagem de São Pedro, apostava que antes das nove não estaria em casa. Sim todo o crédito desse caos vai a Pedrão, que encheu de águas a Terra da Garoa.