Na próxima semana seria o aniversario de casamento, 16º aniversário. Desde o dia que se conheceram não se conversavam. Se falavam, era corriqueiro um “Oi”, um “Adeus”, um “até mais tarde”, “Que horas você volta para o janta?”.
Obviamente não ficavam apenas nisso, mas nunca havia uma conversa profunda nos 19 anos que estavam juntos (2 de namoro, 1 de noivado e 16 de casamento). Discutiam sobre as coisas comuns do dia, sobre a escola das crianças, escolhiam viagens, o final de semana. Palavras como “te amo” aconteciam no meio e depois do amor, no fim de cada ligação e quando ele ia trabalhar.
Eles sabiam que se amavam, sabiam em cada dia que assistiam TV, abraçados (todos os dias assistiam a novela abraçados, apesar de ele odiar novela, porém em contrapartida, adorava o abraço dela e a novela já era comum e já tinha se acostumado).
Ele era feliz. Ela não falava muito, nunca, nem com suas amigas. Não existiam discussões de relações, apenas falavam o necessário. Ele já falava o dia inteiro, diretor de marketing, tinha que convencer, motivar, vender e falar, talvez por isso ela era perfeita, já que a noite podia tranquilamente descansar sua voz e o seu pensamento.
Ela era feliz. Ele era carinhoso, romântico e bem sucedido, tinha lhe dado dois filhos, realizando o seu sonho de ser mãe, ele tinha lhe dado tudo o que precisava.
Assim ele virou e disse: “Semana que vem é nosso aniversário”. Ela “Sim”. Ele “O que vamos fazer?”. Ela “Quero jantar fora, naquele novo restaurante”... “Perfeito, vou marcar”.
Assim foram dormir.