2011/05/23

Introdução - Pág. 2

Na torre norte do Centro de Pesquisa Tecnológicas das Américas Unidas se desenrolava uma pequena discussão. Era raro reuniões presencias, ainda mais por essas horas da noite, porem a maioria dos envolvidos viviam espalhados por toda parte da aldeia, desde as Oceanias as Áfricas, e de qualquer forma seria impossível conciliar os horários de todos, as altas horas da madrugada tinham grande valia. A reunião presencial tinha o seu porque, e os poucos envolvidos sabiam que de forma alguma o que era discutido poderia se quer ser mencionado na rede.

Naquela pequena sala unanimemente era decidido o futuro de Gabriel, da sua pesquisa e de todas as controversas implicações que essas poderiam causar. O que era certo é que ela tinha que parar, aqueles indivíduos já haviam concluído isso. A discussão agora era como fazê-lo.

2011/05/22

Introdução - Pág. 1

Nada o deixava mais irritado pela manhã do que descobrir que sua goma de limpeza bocal acabara. Isso que pela tarde do dia anterior, sua agenda tinha despertado duas vezes avisando sobre lista de sugestão de compras, mas seus pensamentos estavam tão presos aos acontecimentos em curso, que automaticamente mandou sinais para adiamento do agendamento de compras, mesmo ele sabendo que a lista sempre era completa e que bastava simplesmente sinalizar um aceite que antes de chegar ao lar a despensa, incluindo a sua tão preciosa goma de limpeza bocal, estaria cheia. A muito contragosto pegou um daqueles aparelhos jurássicos e agressivos que sua esposa saudosista adorava. Aquele creme branco cheirando a uma horrivel química ia espumando pela sua boca, enquanto as cerdas esfregavam os seus dentes e machucavam sua gengiva. A pelo menos uns 90 anos não usava aquela maldita escova, mas sem goma, e precisando estar em perfeitas condições para o dia, não podia sair com a sua boca com o odor da manhã.

Sua esposa ainda dormia, e parecia que iria dormir muito ainda, desfrutava daquele sono dos justos, calmo, e profundo, que só as crianças tinham naturalmente, ou claro, também eram proporcionadas pelas três pílulas psicossomáticas, assim qualquer adulto de 300 anos poderia desfrutar. Ele ficava tranqüilo, ela desenvolvia suas pesquisas no laboratório do lar, então podia dormir até a hora que acabasse o efeito dos químicos.

Ultimamente preferia encontra-la assim, dormindo, em paz. Ela vinha se recusando a participar dos seus fóruns de decisões da aldeia local, não usava mais o seu óculo comunicador, dizia que queria ser humana de novo, “menos maquina”, colecionando aqueles artefatos obsoletos, relógios, papel, quadros e outras esquisitices que ninguém mais usava. Outro dia tinha encomendado um óculo com representação de teclados qwerty para se conectar. Dizia que não queria mais nenhum óculo lendo os seus pensamentos, e que sentia saudades do tempo que não precisava criptografias para pensar.

Esse comportamento vinha assustando-o. Ela queria se alienar da informação e da sociedade. Estava tomando os passos clássicos para o fim. Pelo menos os químicos deixavam-na mais calma. Ele se lembrava de um artigo que deram centenas de créditos ao pesquisador que não se recordava o nome, e nem tinha vontade de procurar, mas que ele bem se lembrava do titulo “A crise dos imortais, e a volta a mortalidade”. Esperava que isso nunca acontecesse a Sarai e que ela nunca desistisse das reposições de troncos.

Mas hoje, sua mente estava muito cheia para refletir mais sobre a crise de sua esposa, precisava logo se arrumar para chegar ao portal antes das 8h. Precisava estar no centro de pesquisa das Américas Unidas antes das 8h15min. Ele sabia que pelas 8h o portal de residentes das moradias das aldeias locais das Oceanias Orientais sempre estavam com filas enormes. Muitos pesquisadores de médios créditos tinham escolhido seus lares nas Oceanias ultimamente, o que sobrecarregou os portais daqueles lados. O novo portal sendo instalado ainda demoraria dois anos para ser terminado, e por isso todo dia pelas Oito enfrentava aquela fila horrível. Bem, hoje não poderia perder minutos preciosos nas filas dos portais.

2011/05/07

O Discurso

Olhou em voltar. Inspirou profundamente preenchendo completamente os seus pulmões. Expirou lentamente como que expelindo todas as tensões, medos e duvidas. Apertou cada lado da tribuna com suas mãos para aliviar as energias dos seus nervos, articulações e músculos. Respirou como se fosse o suspiro mais importante e sua voz começou a se projetar inicialmente com tranqüilas palavras:

- Todo homem necessita de uma razão pela qual respirar. Uma idéia que faça acordar todo dia pela manhã. Um guia que leve pro trabalho, que o leve para escola, para igreja, que o leve para guerra!

Só se ouvia a sua voz e a respiração daquela multidão compenetrada naquele homem que os falara. A sua voz tranqüila trazia uma paz que acalmava toda aquela platéia alvoroçada.

- A alguns anos atrás eu encontrei a minha razão para viver. Um motivo que me faz respirar. Um lema. Você tem um lema? Você cidadão desse país, tem um motivo pelo qual que te faz levantar da sua cama?

Exclamou com voz forte e firme, que fez o coração dos homens se acelerar, a alma tremer o os pensamentos se inquietarem com sua pergunta.

- Alguns homens são escolhidos, privilegiados. Escolhidos para abandonar suas razões e viver por uma razão maior. Privilegiados com o dom de cuidar, lutar e zelar pelo bem maior, o bem de todos, a felicidade do seu povo. Eu sou um escolhido. Eu sou um homem privilegiado. Escolhido pelo meu povo. Privilegiado com a responsabilidade de guardar e zelar pela minha pátria. “Viver e lutar pelo meu povo” esse é meu lema.

Essa última sentença foi declamada. Foi recitada. Em alto e emocionante tom.

- É isso que estamos fazendo. Esse país que estamos construindo, eu e vocês meus companheiros. Construindo com suor, lagrimas e sangue. Para que nossos filhos tenham uma vida muito mais feliz e melhor do que temos hoje.

-Cada homem desse país recebeu hoje um chamado, um privilégio. O mesmo chamado que eu recebi. Uma razão muito maior da qual vocês vivem hoje.

O povo já aclamava o líder e aplaudia com grande euforia.

- Foi declarada guerra ao eixo-mulçulmano-socialista e seus países associados nas Américas, quem vem ameaçando destruir todas as conquistas e idéias que construímos para nosso país. Assim quando cada um de nós estivermos na batalha, lembre-se que não estamos lutando por nossas vidas e de nossas famílias e sim por um ideal de todo nosso país, e pela nossa razão que fomos privilegiados de ter que é: “Viver e lutar pelo meu povo”.

Assim terminou com forma profética e quase religiosa o seu pequeno e histórico discurso, que foi ovacionado por todo o povo que estava naquela praça e por todo o país que assistia ao vivo suas palavras.