2011/05/22

Introdução - Pág. 1

Nada o deixava mais irritado pela manhã do que descobrir que sua goma de limpeza bocal acabara. Isso que pela tarde do dia anterior, sua agenda tinha despertado duas vezes avisando sobre lista de sugestão de compras, mas seus pensamentos estavam tão presos aos acontecimentos em curso, que automaticamente mandou sinais para adiamento do agendamento de compras, mesmo ele sabendo que a lista sempre era completa e que bastava simplesmente sinalizar um aceite que antes de chegar ao lar a despensa, incluindo a sua tão preciosa goma de limpeza bocal, estaria cheia. A muito contragosto pegou um daqueles aparelhos jurássicos e agressivos que sua esposa saudosista adorava. Aquele creme branco cheirando a uma horrivel química ia espumando pela sua boca, enquanto as cerdas esfregavam os seus dentes e machucavam sua gengiva. A pelo menos uns 90 anos não usava aquela maldita escova, mas sem goma, e precisando estar em perfeitas condições para o dia, não podia sair com a sua boca com o odor da manhã.

Sua esposa ainda dormia, e parecia que iria dormir muito ainda, desfrutava daquele sono dos justos, calmo, e profundo, que só as crianças tinham naturalmente, ou claro, também eram proporcionadas pelas três pílulas psicossomáticas, assim qualquer adulto de 300 anos poderia desfrutar. Ele ficava tranqüilo, ela desenvolvia suas pesquisas no laboratório do lar, então podia dormir até a hora que acabasse o efeito dos químicos.

Ultimamente preferia encontra-la assim, dormindo, em paz. Ela vinha se recusando a participar dos seus fóruns de decisões da aldeia local, não usava mais o seu óculo comunicador, dizia que queria ser humana de novo, “menos maquina”, colecionando aqueles artefatos obsoletos, relógios, papel, quadros e outras esquisitices que ninguém mais usava. Outro dia tinha encomendado um óculo com representação de teclados qwerty para se conectar. Dizia que não queria mais nenhum óculo lendo os seus pensamentos, e que sentia saudades do tempo que não precisava criptografias para pensar.

Esse comportamento vinha assustando-o. Ela queria se alienar da informação e da sociedade. Estava tomando os passos clássicos para o fim. Pelo menos os químicos deixavam-na mais calma. Ele se lembrava de um artigo que deram centenas de créditos ao pesquisador que não se recordava o nome, e nem tinha vontade de procurar, mas que ele bem se lembrava do titulo “A crise dos imortais, e a volta a mortalidade”. Esperava que isso nunca acontecesse a Sarai e que ela nunca desistisse das reposições de troncos.

Mas hoje, sua mente estava muito cheia para refletir mais sobre a crise de sua esposa, precisava logo se arrumar para chegar ao portal antes das 8h. Precisava estar no centro de pesquisa das Américas Unidas antes das 8h15min. Ele sabia que pelas 8h o portal de residentes das moradias das aldeias locais das Oceanias Orientais sempre estavam com filas enormes. Muitos pesquisadores de médios créditos tinham escolhido seus lares nas Oceanias ultimamente, o que sobrecarregou os portais daqueles lados. O novo portal sendo instalado ainda demoraria dois anos para ser terminado, e por isso todo dia pelas Oito enfrentava aquela fila horrível. Bem, hoje não poderia perder minutos preciosos nas filas dos portais.

Um comentário:

Tati Carvalho disse...

Lê, coloque um título pra sua história! Assim saberemos que estamos lendo a introdução de algo (não que não sabemos, pelo menos eu e seu irmão, rsrs!) E vê se faz os post mais cedo!!! =p