2009/03/23

O escritor de horóscopo

Remetia-lhe uma sensação de super herói, lembrava que Peter Parker e Clack Kent, dois de seus maiores ídolos, também eram jornalistas. Assim com esse sentimento escrevias suas fortes matérias desde os tenros anos da adolescência. Tinha o dom da escrita, da imparcialidade ou da critica.

O que mais gostava era da aventura. Subiu morros, quebrou uma perna, viu com os olhos três guerras, dezenas de guerrilhas, conhecia por nome todas as armas, não por ser um apreciador de armamentos, mas pelos relatos colhidos, escreveu sobre traficantes, assassinos, militares e militantes, brigas e protesto, e uma porção de texto todos com um português perfeito, numa forma simples porém formal, mas de um ponto de vista de alguém que viveu todas essas experiências com muita adrenalina.

Seguindo esse espírito, escrevera sua última reportagem investigativa sobre o tráfico em instituições de ensino de renome em São Paulo. Teve duas semanas para escrever, e as três horas da manhã do quinto dia daquele mês deveria entregá-la. Tinha virado a noite, escrevendo, reescrevendo, formatando, relendo e fechando sua matéria, que lhe renderia uma série de reportagens na mesma linha se tivesse um impacto positivo na mídia.

Correu muito, mas muito mesmo, já havia se atrasado mais de quinze minutos do fechamento da edição, então correu muitíssimo. Mais uma de suas fortes emoções que vivia, horários e prazos eram os seus maiores problemas, ainda mais agora que estava na lista negra do redator-chefe. Por mais que tinha corrido (até literalmente), foi o ultimo a entregar sua matéria e infelizmente seu maior medo se concretizou, hoje era ele que escreveria o horóscopo (castigo dado ao repórter que entregasse por último sua matéria). Era nisso que pensava, enquanto escrevia sobre o Sol que tencionava Plutão e Lua que fazia conjunção com Netuno, dando ordens sobre as cores e os números dos dias (geralmente os prediletos dos castigados daquela edição), sim pensava ele: “Super heróis não escrevem horóscopo!!!!”.

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